É Força de Pemba Sim Sinhô...
É
força de pemba... é Lei
Se
errou... se extraviou...
Ninguém
pode dá caminho
Ninguém
pode dá malei...
Só
quem pode dá malei
É
"preto-véio" de seu congá
Assim
mesmo é preciso
Que
se endireite e volte cá...
Esse
ponto nós o ouvimos (e jamais o esquecemos) de um certo
"preto-velho", num antigo e extinto terreiro de um amigo e irmão de
lei (já falecido) — médium de fato e de direito, numa ocasião memorável...
Resumamos
o caso em foco, para podermos dizer ou dar positivamente, certo conselhos a
certos médiuns...
"Preto-velho"
estava firme no "reino" (o aparelho era bom mesmo — incorporava bem)...
Desde que chegou, foi cantando... tirando sempre esse ponto acima...
Os
"cambonos" — gente viva de idéia, traquejados, foram logo após algum
tempo certificar-se do porquê desse ponto, com "preto-velho"...
Ele
balançou a cabeça pra lá e pra cá, deu umas fumaçadas com seu "pito"
e disse, usando o linguajar de guerra, mais familiar a todos os entendimentos: —
"uai gente — suncês nun tão alembrado daquele fio daqui, o Fulano"?
Eles
então logo lembraram desse caso e respoderam: — "estamos sim, meu
velho"...
E
"preto-velho" logo retrucou: — "pois bem — zi Fulano vem pur aí,
tá case chegando nesse congá de preto-véio"... e acrescentou: — "óia
fios, arrecebam ele bem, oviro? "...
E
pôs-se a repetir esse ponto acima grafado...
Abramos
um parêntese ligeiro, para recordarmos o tal caso de Fulano...
Como
tantos outros em outros terreiro, nesse apareceu um filho-de-fé, doente,
aflito, cheio de mazelas e confusões, principalmente na parte mediúnica
espiritual, porque realmente era médium (dentro de seu grau) e vinha sofrendo
mais por falta de apoio e boa orientação.
"Preto-velho"
cuidou, tratou, reafirmou suas condições mediúnicas, enfim, levantou-o de
todo...
Depois
de muito tempo — já firme — fez o seu batismo de lei, ato que implica um
juramento espontâneo, consciente da lealdade à faixa espiritual que o acolheu,
zelou e levantou...
Mas
— é o caso corriqueiro de centenas e centenas de médiuns ou de irmãos que
procedem assim — a certa altura começou a se envaidecer e a ter ambições
próprias de chefiar; tornou-se um tanto ou quanto arrogante, olhando os outros
com superioridade.
Começou
a criar casos. A fazer sessões por conta própria em sua casa, na casa dos
outros médiuns mais ingênuos etc... A "ovelha" estava se desgarrando
do "aprisco"...
Aconteceu
o que, forçosamente, acontece nesses casos... Um choque hoje, outro amanhã e o
ambiente do terreiro vai ficando "irrespirável" para tal médium e ele
lá se foi... não obstante os conselhos de "preto-velho" — aos quais
não deu muita importância... porque "pensava estar seguro, pois também não
tinha seus protetores"?
Nesses
casos — repetimos — que acontecem em profusão e não há Tenda que não se queixe
disso, o médium extraviado segue sempre dois caminhos: — ou abre terreiro por
conta própria ou começa a correr gira — de terreiro em terreiro... pois ele
quer exibir seus "protetores", suas artes mágicas...
Com
esse aconteceram as duas coisas e nada deu certo para ele (como não tem dado
para os outros também — se saíram de uma gira digna, honesta, sincera)...
O
terreiro que abriu, acabou fechando (quando não acaba fechando é porque
descambou ou para o animismo estilizado ou para o vale-tudo) de tantos e tantos
"estouros" e contratempos astrais, intrigas e outras coisinhas
mais...
Daí
começou a ficar desconfiado... e se auto-interrogava de consciência pesada: —
"será que é força de pemba"? Quanto mais pensava, mais adquiria essa
certeza. Mudou. Foi "correr gira"... Foi se apegar com outros...
Não
deu certo... e iniciou uma romaria de terreiro em terreiro. Fez preceito de
toda ordem (sim porque acabam caindo mesmo "nos tais terreiros que de
umbanda só têm o nome" — até "camarinha" fazem), firmou
"cabeça", fez o santo várias vezes. Nada. Aqueles contatos positivos que
tinha lá no terreiro de "preto-velho" que ele traiu... nada... sumiram
como por encanto.
As
antigas confusões voltaram... na vida, no lar, nos negócios etc. Aí ele medrou
mesmo de verdade... "será força de pemba" — meu Deus? — ruminava ela,
dia e noite, com sua mente apavorada, sugestionada, perturbada...
Ainda
suportou muito, por causa de sua vaidade, "de não querer dar o braço a
torcer"... pensando na humilhação da volta...
Porém,
acabou sendo mesmo aconselhado por outrem que já tinha passado por essa
situação de decidiu-se...
Foi
quando — nessa noite — resolveu voltar, assim como quem estava com saudade...
querendo rever os velhos companheiros de lá...
E
"preto-velho" cantava... sabia e cantava... esperando (ah! velho de
fato e de direito)... quando apareceu ele — a "ovelha transviada".
Desconfiado, "cabreiro", como se diz na gíria de terreiro...
Todos
os companheiros antigos ficaram alegres (já estavam preparados), encorajaram-no
apontando para o "preto-velho": — "olha Fulano, — o velho tá te
esperando"...
Emocionado,
aproximou-se da entidade amiga, ajoelhou-se e não disse nada... não tinha o que
dizer, ou melhor, disse tudo nesse gesto de ajoelhar...
"Preto-velho"
disse para ele — lembramos bem: — "levante, meu fio, só se ajoeia quando
se reza pra Zamby ou pra Oxalá e esse "preto-'veio" não é merecedor
disso".
Deu-lhe
o "malei" que pedia; vários conselhos de conforto e voltou com outro
pontinho (indefinível para muitos dos que ali estavam), com a mão por cima de
sua cabeça.
Ei-lo:
"Na
ladera de pilá
É...
tombadô...
Bota
fogo ni sapê
Pra
nacê ôta fulô..."
Foi
quando o médium arrependido não pôde e desabafou emocionadíssimo: — "eu
sei, meu velho — foi força de pemba... sim sinhô"...
(Significado
oculto do pontinho que o tal médium logo aprendeu: — "na ladera de
pilá", quis dizer: — "no caminho da vida espiritual-mediúnica"...
"É...
tombadô...", quis dizer: — "caiu, derrapou, se extraviou, errou
etc"...
"Bota
fogo ni sapê", quis dizer: — "destrua sua mazelas morais, psíquicas,
suas vaidades, seus erros"...
"Pra
nacê ôta fulô", quis dizer: — "regenerar para criar outras forças novas,
forças espirituais, morais etc"...)
Assim,
extraindo desse caso o saldo moral, vamos dar alguns conselhos, nesse sentido.
Cremos ser oportuno.
a)
Irmão médium: — se você anda por aí, às tontas, fazendo "cabeça", se
enterrando cada vez mais de "terreiro em terreiro" — não continue
assim; volte para a sua Tenda, de vez que você sabe que ela é digna, se pauta
na linha justa da caridade, da moral, da humanidade e da sinceridade. Por que
fez isso? Cuidado! Você está prestes a entrar, se já não entrou, "na força
de pemba... sim sinhô"...
b)
Irmão médium: — você que saiu de sua Tenda ou terreiro, "fofocando"
(desculpem o termo), cheio de vaidade, pensando ser o tal e até difamando o seu
médium-chefe ou dirigente — cuidado com a força de pemba... sim sinhô!...
c)
Irmão médium — você foi causa de quizila, conscientemente, em sua Tenda e de lá
saiu, cheio de impáfia, pensando já ter os conhecimentos de lei "para
abrir o terreiro ou agrupamento"?...
Você
provou cisões — por causa dessa sua imbecil vaidade? Pois saiba: — "você
semeou maus ventos e vai colher tempestades... se já não as colheu!"...
Você
foi desleal e ingrato? Se você foi isso e o fez em gira de
"preto-velho", você vai ver o que "é força de pemba... sim
sinhô"...
Traição,
ingratidão, deslealdade, difamação, não têm perdão — assim como você pensa!
Cuidado! "É na força de pemba... sim sinhô"... que você vai ver
quanto está lhe custando ou vai custar tudo isso...
Quizilas
(que você semeou no terreiro) em família? Abandono de amigos e traições?
Choques morais? Também podem lhe acontecer, porque, "força de pemba... é
lei"... não "dorme" não senhor...
Você
abriu terreiro? — com que ordens e direitos de trabalho? Cuidado com o astral
inferior que, na certa, já sabe que você é faltoso, está errado e com toda
certeza já o envolveu e deu-lhe alguns "tombos"...
Você
caiu, machucou-se, quebrou costelas, pernas, pés etc? Pensa que foi mero
acidente? Coitado!... Isso "é força de pemba... sim sinhô"... que o
baixo astral aproveita pra lhe judiar — pois você está "desguarnecido",
essa é que é a verdade...
Quem
mandou trair os sagrados compromissos que assumiu com
"preto-velho"?...
"Preto-velho"
é a Lei — representa as Ordens e os Direitos de Trabalho da Sagrada Corrente de
Umbanda... mas, não é mau, nem castiga diretamente; mas sabe que "força de
pemba... é a lei" que você infringiu, traiu e que tem de processar o seu
curso de ação e reação normal, ou seja: — o que semeares, isso colherás...
E
seus "guias e protetores"? — Na certa que você pode pensar que lhe
estão dando cobertura. Qual?
Você
está nessa altura esta mesmo com um belo "quiumba", matreiro,
velhaco, sugando-o, envolvendo-o, dominando-o... isso sim!
Guias
e protetores de fato não acobertam erros, vaidade, quizila, ignorância e
deslealdade...
Obs:
— Isso tudo não tem endereço certo. É pura doutrina. É recado do astral que
estamos dando. Nós não temos casos especiais que nos tenham abalado a esse
ponto. Nós estamos acima disso... Graças a Deus. Somos completamente
indiferentes a certas "águas passadas"...
Quando
se diz que o médium faltoso está "pembado" é porque ninguém pode dar
jeito na situação dele (ninguém que botar a mão na cumbuca); nenhum Guia ou
Protetor de outra "gira" pode interferir; socorrê-lo... pois "é
força de pemba" mesmo que ele está enfrentando, é a lei interna
moral-espiritual que infringiu e portanto... está sendo disciplinado...
Essa
disciplina, às vezes, é sutil, porém, segura... O médium errado leva anos até
debaixo dela, enfrentando certos impactos, certos tombos duros, de um lado e de
outro, sem se aperceber de que está "apanhando", mesmo porque
"força de pemba é lei... sim sinhô"...
Muitos médiuns, de acordo com a gravidade de seus erros e
com a dureza de seus corações, vão até ao suicídio... como já tem acontecido
por esses "congás" afora...
Fonte: Livro"Segredos da Magia de
Umbanda e Quimbanda"
Autor: W.W. da Matta e Silva
Nenhum comentário:
Postar um comentário